sábado, 10 de maio de 2008

Existem, no Brasil, 1.400 Instituições de Ensino Superior com 13.000 cursos. São 3 milhões de alunos universitários, 40.000 matriculados em Faculdades de Arquitetura e Urbanismo (que formam 5.000 alunos anualmente. Mesmo assim, os índices de desenvolvimento humano continuam descendentes e aproximadamente 80% das áreas urbanas encontram-se em condições informais. (Fonte: Inep/MEC - www.inep.gov.br).

Olá! Muito provavelmente você não nos conhece. Afinal, não temos nome nem forma. Mas temos uma função: mexer com você! Somos um grupo de estudantes de vários períodos da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo que atua informal e paralelamente às estruturas formalizadas (Centro Acadêmico, Departamento, DCE), mas que pretende tomar corpo e tentar, com a sua ajuda, colocar alguns pingos em alguns i’s (porque querer colocar em todos seria querer demais).

Como não somos um grupo formalmente instituído, temos acesso a muitas conversas informais, reclamações de corredor, reivindicações sérias e até picuinhas. O que temos ouvido recentemente nos leva a crer que este é o momento ideal para intervir. Primeiro porque a insatisfação é geral – do 1º ao 10º Período, incluindo aí alguns professores menos acomodados; e, segundo, porque amanhã pode ser tarde demais. Como dizia um antigo puxador de Escola de Samba, “A hora é essa!”.

Em primeiro lugar, gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas:

_ O que é, para você, Arquitetura e Urbanismo?
_ Para que serve o profissional Arquiteto e Urbanista?
_ O curso que você está fazendo está te levando a se tornar um profissional de que tipo?
_ Era isso o que você esperava desta Faculdade?
_ Se não era, se você esperava mais e está insatisfeito, qual a sua parcela de culpa nisso?

Até que ponto você esperava mais dos professores e qual a parcela de culpa de cada um deles?

Bom, caso você ainda não tenha se feito tais perguntas anteriormente, está na hora de começar a afazer. E, se você ainda não possui todas as respostas na ponta da língua, a gente selecionou algumas delas:

_ Resposta padrão: não sei.
_ Arquiteto é o cara que trabalha na construção civil, empregado por uma construtora, que serve para desenhar, através de computação gráfica, móveis que vão caber nos espaços projetados por algum outro profissional desta mesma construtora.
_ Arquiteto não é o mesmo que decorador? Aquele cara que especifica torneiras de R$ 350,00 para pessoas que podem pagar R$ 350,00 numa torneira, ou seja, menos de 20% da população brasileira (e que não especifica torneiras de R$ 350,00 por que são melhores que as de R$ 10,00, mas porque ele recebe comissão sobre os produtos vendidos na loja de material de construção, ou seja, quanto mais caro, mais ele ganha).
_ Urbanista não é aquele cara que desenha os jardins da cidade?

Isso é o que mais temos ouvido atualmente. Sobretudo fora dos muros da Universidade, onde se encontram pelo menos 80% da população brasileira. Mas, aqui dentro, costumávamos ouvir, e nem faz tanto tempo assim, respostas do tipo:

Profissionalmente, o arquiteto deveria contribuir, por exemplo, na pesquisa de materiais, técnicas e tecnologias que barateassem o preço da habitação, de forma que todos pudessem ter acesso a uma moradia digna.

E isto é apenas uma paleta do leque de opções de coisas que poderíamos e até deveríamos fazer e que não estamos fazendo. Ou que fazíamos e desaprendemos a fazer. Charles-Edouard Jeanneret, um famoso arquiteto do século passado, disse certa vez que “muitos não avaliaram que se trata aqui de uma atenção fraternal dirigida ao outro; que a arquitetura é uma missão que exige a vocação de seus servos; que, voltada para o bem da moradia (e da morada que, depois de abrigar os homens, abriga o trabalho, as coisas, as instituições, os pensamentos), a arquitetura é um ato de amor e não uma representação” [Mensagem aos estudantes de arquitetura, p. 32].

É uma pena, mas a verdade é que as coisas não são mais como antigamente. E se mais de 80% da população, que pagam impostos para que nós estejamos dentro de uma Universidade Pública não sabe o que nós estamos aprendendo aqui dentro e, o que é ainda pior, não sabe para que serviremos quando sairmos daqui, é preciso ter em mente que nosso curso, assim como nossa profissão, está tendendo, pelo menos em nosso entorno imediato, à obsolescência e à inutilidade. E isto é sério. E tem a ver com você. E só depende de você querer transformar esse estado de coisas.

Não sei que tipo de profissional você quer ser quando crescer, mas nós sabemos que a UFES tem formado profissionais que contribuem para manter as coisas “na mais perfeita ordem”, ou seja, foram muito bem preparados para deixar as coisas como estão. E nós não queremos isso!

Se você também não quer isso, se está insatisfeito, se quer mudar alguma coisa, seja na infra-estrutura física, seja na estrutura acadêmica, então está na hora de começar. Em primeiro lugar, você precisa ter em mente que tem, sim, sua parcela de culpa nisso. Precisa saber que a UFES não é “essa bosta” que você está pensando, porque se você acreditar que é, se conformar com isso, porque quando chegou já estava assim, não vai fazer nada para mudar.
Precisa acreditar que esse é o melhor lugar do mundo! Pelo menos o foi para muita gente, e pode ser para você também, basta você querer. Precisa entender que as coisas têm jeito, mas não vão se resolver por si só. Mas precisa saber, também, que vai doer, que são amargos os remédios. Mas precisa confiar que não está sozinho. Nós, pelo menos, os que acreditamos no CEMUNI III e no curso que ele abriga há mais de 25 anos, estaremos sempre pelos corredores, no deck, na escada, nas salas de aula, no CALAU, prontos para tentar mudar alguma coisa.

E aí? Você topa? Se disser que sim, que está pronto para sair da casca, que está preparado para esquecer tudo o que aprendeu no cursinho preparatório para o vestibular que você fez, principalmente em matéria de arrogância, prepotência e competição, que está disposto a abraçar alguma causa coletiva, mesmo que isto implique em abdicar de algum projeto pessoal, então você pode responder ao último item. Vou perguntar de novo: O que você esperava dos professores e como eles têm satisfeito (ou não) suas expectativas?

Se você está pronto para dividir suas angústias com a gente, estamos propondo alguns momentos em que discutiremos isso e tudo o mais que você tiver em mente:

_ 1º momento: Amanhã, terça-feira, 29 de abril, às 16 horas, no pátio do CEMUNI III. Apareça! Microfone livre!

_ 2º momento: Quarta, quinta e sexta seguintes: estaremos, nas tardes desses dias, tentando transformar as reivindicações dos alunos em um documento oficial, que será encaminhado pelas vias legais e formais por nossos representantes ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo. A idéia é gerar um documento que sintetize o curso que estamos tendo e exemplifique o curso que queremos ter.

_ 3º momento: Durante toda a semana seguinte, logo após o feriado, estaremos acampando no pátio do CEMUNI III. Não será motivo de festa ou rebeldia. Não passará pela porta do CEMUNI nem um litro de catuaba, nem uma latinha de cerveja durante os períodos em que estivermos a sós no prédio. Estaremos dispostos a discutir os rumos de nosso movimento, propostas para o curso, propostas para a cidade de uma maneira geral, quem sabe até para o mundo inteiro, porque queremos, sim, mudar o mundo! Pretendemos organizar as próximas eleições para o centro acadêmico, vamos ler e fazer poesia, vamos nos organizar. A partir desta data, este grupo deixará de existir, porque outros, mais representativos e menos informais, vão surgir para movimentar novamente o curso de graduação em arquitetura e urbanismo da UFES. Contamos com você!